domingo, novembro 04, 2012
jogo injusto
Cresci ao redor de brigas, gritos, insultos, e um enorme balde de água fria logo me fez perceber que o amor é nada mais do que um jogo. Um jogo de dois participantes que estão constantemente tentando eliminar um ao outro. Essa é a única reciprocidade a que fui apresentada.
Que culpa tenho eu por ter feito essa escolha? Sou participante desse jogo e também quero ganhar. Desejo a vitória tanto ou mais do que o cara com corpo e rosto de modelo deitado ao meu lado, parecendo estar em um sono profundo.
Penso que seria fácil permitir apaixonar-me pelo modo como fios de seu cabelo castanho e macio caíam sobre sua testa; o modo como seu peito subia e descia lentamente em uma calma respiração. Poderia apaixonar-me pelo fato de estar assistindo-o em seu momento de maior vulnerabilidade. Mas a baixa e seca risada que escapa de meus lábios faz dar-me conta do quão ridículo é o caminho que meus pensamentos estão fazendo. É claro que eu poderia apaixonar-me por ele; poderia ter-me apaixonado por tantos outros que passaram por minha vida. Seria fácil simplesmente deixar que as coisas acontecessem da maneira natural, mas por que estragar a diversão?
A diversão de conhecer alguém diferente, de conquistar, de conseguir o que quer e de ter a adrenalina de fugir antes que ele acorde. Por que desperdiçar isso? Por uma ideia falsa de "felizes para sempre"? Para sempre não existe, e muito menos ser feliz para sempre. Não. Eu não acredito nisso. Não acredito que seja possível encontrar uma pessoa e com ela permanecer por todo o tempo que é o para sempre. Eu estou vivendo o amor pelo seu prazo de validade.
Não quero me prender ao futuro. Eu gosto do agora, do viver ao máximo, da liberdade. Liberdade. Sim, de ir e vir, de tomar as decisões que quiser sem ter que se preocupar em como isso vai afetar os que estão ao seu redor. Ora, a única pessoa com quem você tem que se preocupar em relação a consequências é consigo mesma.
Com a necessidade de ter tal liberdade novamente me sufocando, apago o cigarro que estava entre meus dedos e me visto calma e silenciosamente, ainda observando o homem adormecido. Ele havia sido gentil, simpático e divertido de estar por perto, e eu acreditava que um dia, talvez, ele encontraria alguém pra enganar com um anel de diamantes e o sonho de uma vida feliz. Essa pessoa não seria eu.
Ajeito meus fios desgrenhados com os dedos, removendo o rímel que havia sujado logo abaixo de meus olhos. Antes de sair, faço questão de passar batom vermelho e deixar um beijo no espelho sobre a pia do banheiro, tendo em mente que ao menos esse gesto faria com que ele sorrisse e se lembrasse do curto romance que vivemos com carinho. Eu me lembraria de tudo assim. Sorrindo e com os sapatos de salto alto pendurados em uma mão e a bolsa na outra, saio pela porta sem pensar duas vezes. Mais uma partida ganha.
A próxima, por favor.
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1 comentários:
Sis arrebentando como sempre nos textos. Parabéns, amiga
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