Medo, exaustão, adrenalina... Sentia tudo ao mesmo tempo
e se perguntava como ainda não tinha entrado em colapso. As duas pequenas malas
que tinha acabado de arrumar com tudo que considerava essencial não eram muito
pesadas; não podia se dar ao luxo de levar muitas coisas, apesar de saber
que provavelmente jamais voltaria. Só levava agora peças de roupa, alguns itens
de valor que poderia vender e livros. Uma pequena coleção dos seus livros
favoritos que talvez um dia poderia aumentar. F. Scott Fitzgerald, Oscar Wilde, John Boyne,
John Green...
Respirou fundo, tentando fazer com que seu coração acalmasse e mãos parassem de tremer. Não funcionou muito, mas conseguiu fechar a porta de seu quarto sem fazer barulho e andar pelos corredores
igualmente em silêncio. Morria de medo de derrubar algo no caminho por causa
das malas, mas chegou ao lado de fora da casa tranquilamente. Sua casa. A
casa onde tinha passado toda sua infância, sua maravilhosa infância... Às
vezes desejava com tanta força poder voltar àquele tempo, tempo quando não tinha
preocupações além da hora em que seu desenho favorito passaria na televisão.
Queria voltar e quando chegasse aos dezesseis e o conhecesse, ao invés de dar atenção a ele, teria simplesmente o
ignorado e voltado a dançar com suas amigas. As coisas seriam tão fáceis se tivesse feito isso. Estaria partindo para a faculdade e não para um lugar
onde esperava que ninguém jamais a encontrasse. Pra fugir. Fugir dele, de todo o
sofrimento que lhe causou.
Respirou fundo novamente, secando com as costas da mão a
lágrima solitária que havia escorrido por sua bochecha e entrando no táxi que a esperava a alguns metros de sua casa.
Todos os vizinhos estavam adormecidos. Pela manhã, ninguém
saberia dizer a seus pais se a tinham visto.
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