sábado, setembro 29, 2012

epifania

Postado por Camilla Bazzanella



Sempre acreditei que tudo era mais fácil quando não se envolviam sentimentos profundos e complicados de explicar. Sem sentimentos que chegavam e rendiam teu corpo e tua mente de tal forma que tu perde o controle completamente. 


Impotência. Não gosto de me sentir impotente. Gosto que tudo corra da forma como desejo e da forma como planejei. Acho que é por isso que escolhi seguir o caminho da vida fácil, da vida que chega a sexta-feira e tudo o que importa é encher a cara, flertar com um cara e acordar no dia seguinte com cheiro de colônia barata no travesseiro e aquela sensação de que o mundo é simples e as pessoas é que o fazem complicado.


O problema é que, no dia seguinte, especificamente hoje, tudo o que eu tenho é uma puta dor de cabeça, a maquiagem borrada e o quarto vazio. Vazio.


Decido que esse sentimento terrível e angustiante que surge na boca do meu estômago deve passar depois de alguns comprimidos e um banho quente. Mas depois de 1 hora, remédios que falharam em fazer efeito e o corpo ainda úmido enrolado em uma toalha, eu percebo que toda a bebida ingerida na noite passada não é a causa desse sentimento incessante, irritante.


Ligo a TV pra espantar de minha mente os pensamentos, mas tudo o que encontro ali é um lembrete daquele outro caminho que escolhi deixar pra trás há tanto tempo. Vejo amor. E por mais que eu saiba que a cena se desenrolando por trás da tela seja o resultado de dias de ensaio, roteiros amarrotados pelo uso e litros de café ingeridos, aquilo ainda me parece mais crível do que a maneira com a qual me engano a cada noite que passa.


Talvez eu precise de um roteiro. Um roteiro daqueles que me faça entrar  no personagem e ser o personagem, viver aquela vida falsa por trás das câmeras, sem se importar com nada além de decorar falas e fingir estar apaixonada.


Ou talvez eu precise de mais álcool. Coloco o primeiro vestido que acho no armário e uma sandália qualquer, saindo pela porta sem me importar com a TV ligada que conta histórias de mentira envolvendo corações de verdade.


O bar mais próximo que encontro cheira a fumaça e sujeira, mas entro e me sento próxima ao bartender de qualquer jeito. Sinalizo com a mão e ele faz exatamente o que eu quero: me serve uma dose de cachaça que desce queimando e apagando qualquer traço do sentimento ruim que eu sentia 2 minutos atrás.


Deveria existir mais homens como ele.


Mal percebi quando alguém sentou ao meu lado. Devem ter passado 10 minutos, 30 ou 2 horas, eu não sei. Só sei que ele me ofereceu uma bebida. Porre de graça? É claro que eu ia aceitar. Me virei para dizer que sim e foi aí que aconteceu.


O sentimento que eu acreditava ter ido embora junto com as primeiras doses que desceram queimando voltou. E com força. Mas ele não é mais irritante. Ele agora é engraçado, diferente e delicioso.


O homem que havia me oferecido uma bebida era lindo. Charmoso, divertido e fácil de conversar. Sei que era pra ser uma bebida, mas já foram tantas que mal sei o que estou dizendo.


Talvez seja disso que eu precise. De alguém pra pagar o meu porre, que ria da minha risada embriagada assim como esse homem que surgiu do nada está fazendo. 


O fato é que não estou usando maquiagem e ele não está usando colônia barata.


Talvez dessa vez seja diferente. Afinal, hoje é sábado.

2 comentários:

Unknown on domingo, setembro 30, 2012 disse...

Adorei esse texto, com sempre arrasando, né camis? Parabéns!

Camilla Bazzanella on domingo, setembro 30, 2012 disse...

Awn, amiga, obrigada *-*

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