quinta-feira, outubro 25, 2012

as cortinas se fecharam

Postado por Camilla Bazzanella


Lembra daquela vez que sentamos no banco da praça? Minha cabeça estava em seu colo e nós conversávamos sobre tudo. Lembra? Lembra de como naquele exato momento tudo parecia certo?

Não me leve a mal, o tempo que passamos juntos foi mágico, cheio de momentos em que as faíscas brilhavam de tal forma que eram tão fascinantes quanto fogos de artifício. Mas, de alguma forma, o momento que mais marcou foi aquela tarde no banco da praça. A leve brisa de primavera acariciando nossa pele, a água do lago tão calma, transparecendo a paz que envolvia nossos corações e espíritos. O som do canto dos passarinhos, que uma vez me parecia tão irritante, agora era como uma trilha sonora pra felicidade que eu estava sentindo.

Se for me perguntar agora, parece que aquela tarde foi há muito tempo atrás. Há tempo demais. Hoje estamos jogados na cama do seu quarto, no campus da faculdade. Nossos corpos mal se encostam, apesar do pouco espaço, e eu não consigo olhar para você. Tudo o que me permito ver é a parede de um branco manchado, sujo; de pouco em pouco, me permito olhar o restante das coisas. A sua camiseta favorita jogada sobre a poltrona estrategicamente localizada entre a tv e o frigobar, para que você possa pegar uma cerveja sem ter que deixar a preciosa partida de futebol que vinha esperando há uma semana. E por mais que você soubesse que eu odiava, muitas das tais latinhas cobriam várias partes do chão, deixando o carpete azul escuro invisível. Tantas vezes me perguntei por que continuas a fazer isso, e cheguei à conclusão de que fazes só pra me irritar.

No começo, eu não me importava com isso. Achava engraçado, até. Mas com o tempo, coisinhas como essa chegaram ao ponto de me deixar louca. E, apesar de ainda te amar como no início, e de tantas vezes me perguntar se era eu quem era implicante demais, percebi que talvez era você quem estava se cansando. De mim, de nós, disso tudo. Talvez nós já tivéssemos conseguido tudo que precisávamos desse amor. Bons momentos, boas memórias, aquela tarde inesquecível.

E foi com essa sensação de "ponto final" que eu tomei uma decisão. Tudo mudaria a partir dela, mas eu precisava disso. Você, também. Nós precisávamos disso. Precisávamos da chance que tínhamos de recomeçar, e em algum momento, algum de nós tinha que ceder.

Você foi tomar banho e eu me vesti, colocando a bolsa sobre o ombro e dando uma última olhada pelo quarto que tinha sido palco de tantas emoções, de tantos teatros estreados pelas mesmas pessoas. Um espetáculo de sucesso que agora saía de exibição. Meus olhos pousaram novamente sobre sua camiseta favorita e não pude me conter. Eu precisava do seu cheiro para me ajudar, pois a parte mais difícil ainda estava por vir: te esquecer.

Assim que a porta da frente bateu com um som baixinho atrás de mim e a brisa de mais uma primavera me atingiu, lágrimas surgiram. A verdade era que ninguém mais me faria ter a mesma paz que você me trouxe naquela tarde.

Lembra?

2 comentários:

Unknown on quinta-feira, outubro 25, 2012 disse...

Adorei, inspirador e profundo, parabéns, minha linda! <3

Felipe Alexandre Bazzanella on quinta-feira, novembro 01, 2012 disse...

O som do canto dos passarinhos, que uma vez me parecia tão irritante.
Nessa frase encontrei um fato.

Parabéns, Camilla, um conto fantástico. Um beijo e continue escrevendo!

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